top of page

ZINE

Veja aqui alguns textos do nosso Zine de publicação bem artesanal,

ainda somos analógicos em alguns casos.

Suspiro

Como numa primavera

Pequenos Suspiros

Rompem ramas

Em pulmões dilatados

Que implodem 

Ansiosos

Ao menor arrepio

Subcutâneo 

Como moscas que

Copulam 

No ar

 

Marcus Oliveira

 

Lista de Material Escolar

Um botão
Um bobe azulado
Um brinco de pérola falsa
Uma rolha
Um papelzinho de bala adocicado
Uma pena amarela
Uma flor que não sabe murchar
Uma concha muito longe do mar
Um dente de leite (meu)
Uma chupeta mordida
Um fio de cabelo ruivo
Um besouro metálico
Um toco de lápis, mordido na ponta
Um leque de papel
Outro dente de leite (cariado)
Uma miçanga de cristal
Um parafuso dourado
Uma pedrinha preta e lisa
Um rabo de lagarto
Uma mosca ressecada
Uma casca de minduim
Um piruá de pipoca
Mais um dente de leite (de cachorro, parece)
Um retalho estampado
Um elástico de dinheiro
Um chiclete mascado
Dois caroços de azeitona
Uma casca de aranha
Uma asa de borboleta furada
Uma chave pequenina
Um anel de plástico
Uma bala de menta chupada
Um seixo rolado
Um palito de picolé premiado
Uma perna de óculos
Muitos dentes de leite grudados (de alguém de idade)
Um grampo de cabelo
Uma medalha enferrujada

 

Coleção de coisas,
achadas no chão da escola,
por um menino que anda
olhando para baixo.

 

Tiago de Melo Andrade

Annelise

Fechou o piano

pegou a valise

trancou a prota

 

Despediu-se da tropa

respirou forte

abriu o passaporte

e foi pra Europa

 

Que sorte

Aqui na redondeza

Há quem não suporte

saudade à francesa

 

Rebeca Canhestro

Tem uma goteira

.

.

a noite inteira pingando

em meu encharcado sono

mergulhando na orelha

"plucs" de água fria

enchendo a paciência 

me transbordando a bacia

 

Rebeca   Canhestro

 

BIle

Passo por entre os homens

Reconheço-os

Talvez não saiba nomes

Mas os centímentros que habitam

E se apossam 

Guardando a salvação no fundo falaso

Da última gaveta.

 

Passo por entre os homens 

insustentavelmente externo 

Piso em gotas 

De bile 

Que escorrem da própria 

Melancolia 

 

Passar por entre os homens 

Ter duas mãos 

É estar longe

Como quem volta do campo 

Mudo

 

Marcus Oliveria

1
2
3
4
5
6
7
8
bottom of page